Vanduarte, artesão paudalhense, é o criador do troféu “O Carpinteiro“ da terceira edição do festival

Postado em 30 de maio de 2021

Na qualidade de membros de uma cultura cristã, todos temos nossas “manjedouras”, lugares que nos moldam, nos forjam, a sermos aquilo que nossas primeiras aptidões manifestaram. Cada um a seu tempo, a seu modo e com Vanduarte José da Silva, artista, artesão, não foi diferente. Ele percorreu esse caminho desde quando nasceu, lá em Feira Nova. Passou por Lagoa de Itaenga, mas fincou sua história nas terras do município de Paudalho, cidade da Zona da Mata de Pernambuco, onde vive até hoje, e lá desenvolveu toda a sua arte. Pai de dois filhos e filho de Maria Rosa da Silva, uma artesã que, com lã e linhas, usando da técnica da arte de tenerife, produz: Crochê, ponto de cruz, roupa de banho, de praia, vestidos, toalha de mesas e outras peças.

Foi desta relação materna, que ao conhecer as coisas do mundo, Vanduarte, viu também o universo da cultura e seu campo vasto das formas e cores. E ainda na adolescência, incentivado por sua mãe, se matriculou em um curso de arte em madeira e, mesmo passando poucos dias de aprendizado, pois a oficina estava em fase de conclusão durante sua chegada, mesmo assim, foi o suficiente para lhe envolver de uma maneira que definiu os passos futuros de sua vida.

De lá pra cá, tornou-se um artesão de referência em esculpir em madeira, retratando as diversas formas como: flores, imagens seca no Nordeste, nomes (com todos os tipos de letras), time de futebol, bandeiras de países e estados e troféus, trabalhando sempre com a madeira de demolição (madeira de arvores, mortas, móveis velhos sem uso).

Uma outra paixão de Vanduarte é a dança. Se envolveu no movimento hip hop, produzindo por 8 anos, o Dalho Hip Hop, e 9 encontros de B. Boys da Zona da Mata de Pernambuco, organizando oficinas de Hip Hop em diversas cidades. Atualmente, além de sua intensa produção, realiza um projeto em parceria com a prefeitura de Paudalho, ensinando jovens aprendizes a talhar escultura em madeira.

E na contemporaneidade desta história, a cidade de Carpina na Zona da Mata Norte de Pernambuco também está inserida no contexto de Vanduarte, e vizinha do município de Paudalho, esteve desenvolvendo um núcleo espontâneo de produção audiovisual, com curtas e longas-metragens, com produção local. E foi neste ambiente propício que aconteceu a criação do Festival de Cinema de Carpina (CINECAR) que dentre suas prerrogativas objetiva incentivar o desenvolvimento da cultura cinematográfica, e se apresentar como um organismo de articulação, com objetivo de fomentar a expansão do cinema brasileiro em toda essa região e que, desde sua primeira edição, buscou imprimir em suas características os elementos básicos de suas origens, sobretudo na construção afetiva com a cidade pela qual justifica a existência de tal evento. E para isso, seria preciso encontrar parceiros conectados com as bases de sua representatividade para que cada detalhe dos processos de produção, viesse a preservar a cultura carpinense com toda sua especificidade como cidade protagonista cultural e economicamente.

Dessa forma, o troféu que premiará as diversas categorias vencedoras do festival, será uma estatueta intitulada “O carpinteiro”, trazendo em si, essa expressividade oriunda das marcas culturais de nossa cidade, que manifesta desde muito tempo, até os dias atuais, a engenhosidade criativa em seus bonecos de mamulengo, usando como matéria-prima, a madeira.

Porém, muito antes desta década que marcaria essa trajetória das peças feitas de madeira para o teatro de bonecos, em um passado não tão distante, quando a cidade ainda era conhecida como uma vila, a arte da marcenaria viria a ser referência histórica da mesma pois é dito que em 1922, um carpinteiro de nome Martinho Francisco de Lima, a quem os almocreves (condutores de bestas de cargas) o chamavam de Carpina e que viria a se tornar um de seus principais personagens e, consequentemente, seu apelido de profissão tornou-se o nome da cidade, constando uma representação de sua imagem em forma de estátua, esculpida em pedra pelo artista Faustino, da cidade de Brejo da Madre de Deus, que por muitos anos esteve em uma das praças, e hoje compõe o cenário da chegada da cidade.

Então, foi preciso encontrar um artista artesão, que compreendesse o conceito planejado e, com habilidade na arte em madeira, dando forma à ideia do troféu para a terceira edição do CINECAR, pois a intenção seria de retratar em madeira, a figura do personagem que deu origem ao nome da cidade. E no primeiro esboço, Vanduarte já demostrou o porquê é dele o posto de artista representativo do estado de Pernambuco, pois conseguiu criar com maestria, uma representação estética da proposta de uma réplica da estátua da figura do Martinho Francisco de Lima, para compor o troféu “o Carpinteiro”.