Jailson Silva, queremos agradecer a sua gentileza em conversar conosco, abrindo os trabalhos aqui em nosso site das publicações de filmes que estão em fase de lançamento. Vamos começar nossa conversa boa sobre cinema?
ENTREVISTA
FESTIVAL DE CINEMA
— Me diga lá, a obra cinematográfica “Devastado Pela Vida”, se propõe a falar sobre qual assunto, e o que ela quer dizer à sociedade?
JAILSON SILVA
— Primeiramente, gostaria de agradecer pela oportunidade de estar aqui, e dizer que me sinto bastante feliz e honrado pelo convite. O filme “Devastado Pela vida”, é um filme de gênero que mostra a princípio uma amizade, que é destruída por questões financeiras, no qual abala um relacionamento de anos do personagem José Antônio, e o mesmo se vê no fundo do poço. Até aí, tudo bem, mas o que eu quero dizer com apenas isso? O filme se propõe a tocar no coração de quem assiste, que sempre há uma luz no fim do túnel, nós somos seres capazes de nos reinventar e assim com a fênix, renascer das cinzas. O filme retrata de forma poética e dolorosa as perdas que vamos tendo ao longo do caminho, e o quão fundo no poço podemos chegar, mas em forma de catarse, podemos reconstruir nossas vidas, tentando não se abater pelos erros e perdas do passado. Então, o que a gente quer mostrar para a sociedade é que, erramos, perdemos, nos decepcionamos, decepcionamos também, e que podemos, ao invés da depressão, buscarmos forças para continuarmos, até por que o pulso ainda pulsa. E, de forma poética, evidenciar que todos temos nossas dores, lutas e valores, que saibamos percorrer os caminhos e sinais indicados por Deus.
FESTIVAL DE CINEMA
— Assim como o seu primeiro longa-metragem, seu segundo filme também teve filmagens em Carpina e elenco da cidade. O fato destes dois trabalhos terem sidos filmados em sua cidade natal, foi algo baseado no custo de produção e praticidade, por estar inserido em seu contexto, ou em sua filmografia, você imagina contribuir para o desenvolvimento de uma cultura cinematográfica no município?
JAILSON SILVA
— Bom, por não haver incentivo governamental, não estando participando ativamente de projetos de incentivo à cultura, e somando esforços de pessoas amigas, dentro e fora do município de Carpina. Nosso cenário para as minhas criações cinematográficas, fica inserido e fincado em Carpina. Porém, com aprimoramento de novos projetos e interação com leis de incentivo, é louvável pensar em outras locações nas cidades vizinhas e adjacências, e quem sabe, até em outros estados, até por questões financeiras e de ordem econômica. Tive a felicidade de oportunizar os artistas da minha cidade, uma forma de engajar os mesmos no cenário cultural e criativo, dando-lhes a visibilidade almejada. Mas já tenho em mente e em construção, minha contribuição para o nosso município, partindo de uma escola de formação de atores e produção de cinema, onde ofertaremos cursos de média duração, com certificação ao final do curso.
FESTIVAL DE CINEMA
— Ainda no contexto da cidade, na qualidade de cineasta carpinense, qual a sua opinião em relação às ações de políticas públicas da Secretaria de Cultura do município, sobre investimentos no apoio ao segmento do audiovisual?
JAILSON SILVA
— Olha, num âmbito geral, posso afirmar que a política pública de investimentos no seguimento de cinema, posso dizer que em outros seguimentos, dentro da área cultural também, ainda é muito tímida e de forma discreta, não possuímos um setor cultural ativo e inclusão entre artistas e secretarias. Como eu havia falado anteriormente, não tive incentivo direto desses órgãos competentes, mas também não posso me negar o fato que tive sim, apoio municipal, até por questões de locação, divulgação e locomoção de agentes do meio. Hoje, busco de forma legal e dentro das características baseadas em agregar meu trabalho, como um produto advindo de Carpina, para Carpina, e para o mundo, portanto, de acordo com as diretrizes orçamentárias do nosso estado e a distribuição desses valores, busco uma inclusão do meu trabalho, apesar de todas as dificuldades encontradas, não me furto o desejo incessante de mostrar a minha arte, independentemente de questões financeiras, haverá cinema em carpina, sim, afinal somos resistência.
FESTIVAL DE CINEMA
— No projeto do filme, você é o roteirista, diretor, protagonista e produtor. É possível acumular todas essas funções, sem que aconteça o detrimento das outras? Essa foi uma decisão sua para preservar o máximo, a ideia central de como essa história deveria ser contada? Ou por ser um filme de baixo orçamento, você se viu na necessidade de acumular as funções?
JAILSON SILVA
— Olha, eu sou o tipo de pessoa, que já tive grande sofrimento em minha vida, mas sempre tive o sonho de ser ator. Já atuei de várias formas dentro da minha cidade, o que eu me orgulho muito e que serviu de base para a construção de quem eu sou hoje. Já tive inúmeras frustrações ao me deparar com o acesso restrito no tocante à arte, justamente por conta de questões financeiras, dentre outras. Me vi muitas vezes sem a oportunidade de atuar na minha área, foi também nesse momento, que eu me apaixonei profundamente pela ideia de escrever (roteirizar), observando toda a área técnica e como produzir todo um trabalho. Foi quando eu tive a ideia de me oportunizar, e não esperar de outrem que me deem essa chance. Escrever pra mim, é como eu estar em estado de transe. Quando eu escrevo, eu consigo enxergar essas cenas de forma muito clara, então preciso estar no set de filmagem, para não perder nenhum detalhe, o qual havia imaginado anteriormente. Sei que não devo acumular tantas funções, é claro que muitas coisas não saem totalmente de acordo com o que foi criado e que muitas coisas perdem totalmente a sua essência. Mas como o filme “Devastado Pela Vida” nos traz essa sensação de ressurgimento, aprendi que tenho mesmo que dividir minhas tarefas com uma equipe coesa de produção e direção. Afinal, não se faz cinema sem pessoas dotadas de seus conhecimentos específicos, por isso que volto a dizer que, a partir desse momento, estarei buscando incentivos das leis, para angariar fundos onde uma equipe de direção executiva consiga distribuir de forma ilesa, esses profissionais que integrarão meus próximos trabalhos.
FESTIVAL DE CINEMA
— Falando em baixo orçamento, você é o produtor do filme, imagino que você também cuidou de toda a parte estratégica em relação aos custos do filme. O filme “Devastados Pela Vida”, tem financiamento de leis de incentivo? Caso o filme não possua financiamentos público, de que maneira aconteceu a captação de recursos para viabilizar esse projeto?
JAILSON SILVA
— Como já citei nas perguntas anteriores, sim eu me propus a fazer todas as áreas em torno do filme, e comecei pela estratégia de criar minha própria direção executiva. Organizei o projeto noites a fio, desenvolvendo um script com a cara da minha proposta, desde o briffing, à entrega final do filme, com os devidos resultados, já escalonado no projeto impresso. Me candidatei a buscar patrocínios de pequenos, médios e grandes empresários, o qual obtive muitos nãos, mas sem perder a fé e a esperança de que tudo daria certo. No final das contas, fui abençoado com alguns sins que obtive na minha longa jornada de peregrinação em prol do cinema Carpinense. Hoje, vejo que naquele momento, eu estava tão cegamente envolvido na minha própria bolha, que não me dei conta de que deveria inscrever esse mesmo projeto nos financiamentos públicos de incentivo. Mas também, não obtive desde sempre orientação nesse segmento, não tinha um agente que me indicasse os caminhos a percorrer. Hoje, busco nos amigos mais informados, uma assessoria destinada a obtenção desses recursos. Ainda não tenho um trabalho futuro totalmente definido, mas com certeza, o próximo será muito mais especial em todos os âmbitos, e de forma mais cautelosa e menos sofrida.
FESTIVAL DE CINEMA
— Para quando está previsto o lançamento do filme, e qual percurso a obra vai seguir em termos de comercialização?
JAILSON SILVA
— “Devastado pela Vida” terá três sessões especiais em meados de junho de 2021, no Shopping de Carpina, a título de prestação de contas, com os trabalhadores diretos e indiretos do filme, a população, patrocinadores, jornalistas e prefeitura. Ainda não temos uma data marcada para a real estreia, pois estamos em processo de inscrição em alguns festivais nacionais e internacionais, portanto o caminho a seguir de agora em diante é pelos festivais e mostras competitivas que abraçar a ideia de exibir esse trabalho totalmente independente e de muita labuta.
FESTIVAL DE CINEMA
— O elenco de “Devastado Pela Vida” é todo de Carpina, ou conta com atores de outros lugares?
JAILSON SILVA
— Bem, logo no início eu comecei com os atores locais, e aos poucos, eu fui tendo a sorte de juntar minhas ideias com artistas de peso que não só me apoiaram, como vestiram a camisa da minha obra e tocaram o barco comigo, em especial Bruno Goya, ator Caruaruense, que carrega em seu currículo, vários trabalhos importantes nas mídias de domínio público como a Rede Globo. O ator recifense Val Júnior, vindo da área de cinema, tendo em seu currículo, passagens por Aquarius e Bacurau, do renomado diretor Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, dentre outros trabalhos incríveis do mesmo. Vale ressaltar, que Val Júnior tem uma importância no meu filme não somente como ator, mas também ele assina uma parte da edição do filme e correção de cor, fundamental para abrilhantar ainda mais a fotografia de Paulo Emílio. Enfim, foram muitas as ajudas vindas de uma galera que se importa em fazer arte, em vestir a camisa e se jogar de corpo e alma nas ações que eu me dispus a executar. Me sinto deveras lisonjeado por poder contar com tanta gente legal que foi aparecendo ao longo do caminho e somando à minha trajetória. Mesmo aos que não puderam se fazer presente, mas que me apoiaram de todas as formas, em especial agradecimento a Matheus Nachstergaele e Tonico Pereira, Marcio Rosário, Silvio Pozatto, Tony Lee, Tuca Andrade, Ed dasilva, Soren Hellerup, Brian Townes, James Turpin, Jonny Mars, Deo Garcez, ALLI Willow, Zezita Matos, David Wendefim, Alesander Sil, José Mário Austregesilio, Luiz Carlos Borges, Adelio Lima, Sergio Murilo Jr. Antônio Adder, Assis Clemente, Marcelo Trigo, José RAMOS, Alexandre Oliveira, e tantos outros grandes amigos.
FESTIVAL DE CINEMA
— Você é o diretor, mas também o ator que faz o protagonista do filme, em paralelo com a responsabilidade de estar à frente dar parte criativa do projeto e ao mesmo tempo em cena com todo processo de construção e interpretação do personagem. Acredito que pelo fato de ser o protagonista, você esteja atuando praticamente em todas as cenas. Nesse caso, qual o método de trabalho você usa quando está atuando, para que não haja riscos de comprometimento na qualidade da obra, uma vez que em grande parte do filme sua perspectiva está ligada ao trabalho de ator diretamente dentro da cena, sem a visão panorâmica da direção.
JAILSON SILVA
— Olha, confesso que não foi uma tarefa fácil me fazer presente em tudo, pois havia muito esgotamento físico e mental, mas sempre preocupado com o controle de qualidade de todo o processo. Tive a sorte grande de encontrar pessoas que me deram ajuda, desde o contrarregra, à maquiagem. Na verdade, digo que fiz tudo, mas no fundo foi mesmo um esforço coletivo, pois até os atores me ajudaram nessa trajetória. Então posso afirmar que houve interação de todos para o processo de realização da obra. Meus amigos que estavam à frente, trabalhando com as câmeras o Kleyton Melo e Paulo Emílio, me ajudaram na parte da direção das cenas, uma espécie de primeiro e segundo assistentes. Então pra mim não foi um total desgaste, por que eu tive ajuda de todos, até preparar as minhas cenas. Houve momentos em que eles assumiram a diária de gravação e eles mesmos executaram, de última hora, os ajustes de decupagem de cena. Por isso, reafirmo que foi um trabalho coletivo, onde todos puderam dar sua contribuição para a realização desse trabalho lindo.
FESTIVAL DE CINEMA
— Tanto o “Pense Numa Luta” e “Devastados Pala Vida”, são dramas de sua autoria. É de sua natureza artística fazer de sua obra, uma reflexão sobre o estado atual das coisas mundo? Não que não seja possível que se consiga fazer tal reflexão em outros gêneros como a comédia por exemplo. Mas a história do cinema está repleta de autores que embasaram toda sua obra numa visão completamente introspectiva, esse seria seu estilo?
JAILSON SILVA
— Veja bem, eu sou muito emotivo e carrego em mima sensibilidade de observar os fatos da vida. É notório na minha obra, as reflexões encontradas para abordar o quão somos frágeis e o quão somos fortes. É através dessa sensibilidade, que me encontro como ser humano. Transformo minhas angústias pessoais em poesia, e as empurro para as trincheiras da minha criatividade. Então pra mim, é uma batalha colorida de sentimentos e beleza trazer abordagens reais de personagens do nosso cotidiano, com suas verdades sob seus ombros. Não me caracterizo apenas por escrever gênero romântico ou dramático, tenho engavetado por exemplo roteiros de ação e comédia. Estou trabalhando fortemente na finalização do meu terceiro longa-metragem intitulado “Canavial”, um drama policial, uma coprodução internacional, realizada com um grande amigo norte americano de Utah EUA. Mas quando eu olho pra minha vida, meu passado e minha história, me sensibilizo nos dramas pelos quais já passei. Enfim, não posso me rotular apenas por um tipo de gênero, sou um autor bem versátil, na verdade. Só peço que aguardem os próximos trabalhos e se surpreenderão com a minha explosão criativa. (risos)
FESTIVAL DE CINEMA
— Me fala sobre o projeto de montar um Stúdio, cinematográfico em Carpina. Esse é um daqueles projetos seu que a cidade é parte fundamental da proposta?
JAILSON SILVA
— Desde muito tempo, eu vinha com esse ímpeto de poder contribuir de forma recíproca a minha cidade. Estive pensando que temos artistas maravilhosos, e pessoas com muita vontade de aprender essa arte linda que é o teatro, a arte de atuar nos palcos e fora dele, mas que no momento, ainda não temos tais ferramentas na nossa cidade. Com base nessa perspectiva, eu dei início ao meu projeto pessoal, de criar um lugar onde todos pudessem frequentar e aprender de forma lúdica a arte de atuar, assim como cursos para aprimorar e aprender o desenvolvimento de fotografar, editar e dirigir vídeos. Oportunizando assim, diversos jovens para o mercado de trabalho na área, que por sinal vem crescendo no nosso Estado, se tornando muito promissor. A cidade se torna fundamental quando todos se juntam e abraçam essa ideia, e graças a Deus eu tenho uma legião de amigos que me apoiam nessa empreitada. Agora, é somente correr atrás desse sonho e realizá-lo de forma intuitiva e com os pés fincados no chão. Com certeza, é um trabalho que pretendo realizar a longo prazo, mas que graças a Deus, já saiu do papel e tem se transformado em realidade. Em breve, teremos nossa escola de artes nos arredores de Carpina, onde eu fui o pioneiro em revelar para a Zona da Mata Norte o poder cinematográfico que temos. Assim também, como a amiga Jéssica Natana, que com um toque de ousadia, foi a primeira mulher a desbravar o cinema carpinense junto comigo. Então, eu só tenho que agradecer a Deus por sempre me colocar nas melhores posições, ao lado de grandes amigos. Obrigado.